sexta-feira, 9 de julho de 2010

"A taça do mundo é nossa". Goste você, ou não.

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Como representar o Brasil? Coqueiro? Carmem Miranda? Sol? E junto com Copa do Mundo? Que tal uma arara mordendo uma bola? Ou um capoeirista dando um voleio? - eita, assim parece a marca da Copa da África, deixa pra lá. Me parece um tanto complicado. Tanto que um bando de designers tampa de crush já tentaram a empreitada sem sucesso. Aí vêm um cidadão, desenha três mãos formando uma taça, assim, bem rapidinho, como se fosse um traço de criança e pronto. A Fifa aprovou. Até Paulo Coelho aprovou, olha lá. Então é porque tá bom.

Pois é. Eu também acho que não é assim que se resolve. Acho que nosso país tem gente talentosa demais pra projetar e julgar uma marca tão importante e tão representativa pra nós. Existem órgãos seríssimos que podem mediar o processo. E acho que passar por cima de tudo isso, de todo mundo, é bem desrespeitoso - pra não falar escroto, que é uma palavra feia. Não parece que as entidades e nossos profissionais não foram respeitados durante o processo de criação, desenvolvimento e escolha dessa marca (desculpas Hans Donner, não te incluo como designer). Não sei até onde é verdade, mas é o que tenho lido. E se foi o que aconteceu, precisaríamos de uma classe muito mais forte, para sermos devidamente ouvidos. Falha nossa.

Voltando. Apresentaram a tal marca. O próprio Joseph Blatter tava lá, falou e tudo. Até em portuñol, um esforço danado. E eu gostei de resultado. Depois explico porquê. Gostei. A maioria dos meus colegas e amigos variou entre o repúdio e o ódio. Textos, e-mails, tweets, manifestações de todos os lados. Calma lá pessoal: é tão ruim assim? Daqui pra amanhã, podem até me convencer que sim. Até agora, continuo gostando da danada.

Entendo que quando procuramos representar algo de forma figurativa, é natural uma infinidade de interpretações. Muito se comentou sobre a marca parecer Chico Xavier escrevendo, com a mão na cabeça, ou sobre o roubo da Jules Rimet. O fato é que, ao meu ver, o símbolo representa muito bem uma Copa do Mundo no Brasil: a união de povos em torno de um objetivo comum. Com as cores óbvias que representam nosso país (com exceção do vermelho, que provavelmente funciona como um contra-ponto não ficar a marca de um país só - afinal, é um torneio internacional). Há de se encontrar uma infinidade de formas 'escondidas' sob essa, e isso só vai passar quando a mesma for apresentada dentro de seu sistema de identidade visual completo, e 'apurarmos' um pouco nosso olhar. Pela análise inicial, me parece que resiste muito bem a testes de redução, positivo/negativo, tem cores de fácil reprodução, evita os abusos de efeitos, é equilibrada nas proporções de seus elementos, entre outros detalhes mais técnicos graficamente. Contudo, isso não é o suficiente pra tornar uma marca 'boa' ou 'ruim'. Existem peculiaridades como se ela responde ao briefing ou se atende aos seus representados. Existem detalhes que nós, que não nos envolvemos diretamente no projeto, não podemos avaliar ou comentar. No geral, no entanto, acho um símbolo bem simpático, irreverente e pra lá de ousado (não é toda a manifestação). Além de ter uma tipografia totalmente desenhada, única e de boa leitura (ou você está tendo alguma dificuldade de ler 2014 ou Brasil?).

O pior de tudo é constatar nossa capacidade de reclamar sem organizar. Meu medo fica pra a Copa do Mundo de verdade, no Brasil, dos desvios, dos desmandos, da desorganização, da violência.

Quanto à marca, é linda.



Texto de Daniel Pinheiro
Designer e sócio no Estúdio Mola, de Recife.

15 comentários:

julisboa

pinha, tu tem meu total apoio!

Guto Campello

Rapaz, eu achava, sinceramente, que só eu tinha gostado da marca. Que bom saber que eu não fui o único.

hahahahahaha

Ótimo texto. Parabéns.

Igor Moura

4. tô contigo e não abro, mago.

ThiagoThiko

Muito boa a defesa... é claro, que se fosse uma marcooona totalmente excelente não existiria nem pra quê esse texto, por isso não é que seja ruim ou boa, bonita ou feiosa, mas que foi, embora tão simplório levando em consideração não saber do briefing se pedia pra ser assim com cara de corel, uma marca que deu o que falar, e isso é Brasil.

Anônimo

Marca tosca, tipografia tosca, justificativa tosca e defesa tosca...

bel

Não sei se foi porque foi daniel quem escreveu essa defesa (sendo fã do trabalho dele, também respeito muito sua opinião), mas ja to gostando uns 20% mais. Tudo bem, tenho 4 anos ainda pra amar.

ps: daniel, arrasou na defesa.

Pamella Souza

E num é que ele tem argumentos plausiveis e de fato verdadeiros.

Ainda que não goste muito da marca. Gostei muito do texto em defesa dela.

Boa Dã

Anônimo

design é assim, acha q uma boa defesa salva qualquer merda.

Mateus Alves

marca feia do carai! :P uhuehehe

vai dizer que tu gostou desse boy gay rosa que aparece chutando a bola do mundo no vídeo de apresentação?

fato é que a coitada é bem "pobre de feição", como diriam meus conterrâneos. Desenhada bem rapidinho num traço de criança como tu disse e acho que isso é o que mais incomoda a maioria dos que criticam.

E depois de ler tantas criticas, tweets, Da Hora( http://bit.ly/9RuVst ) e agora a pouco Wollner ( http://bit.ly/dvBiZh ), não sei se fico com tua "bondade" ou com a radicalismo de Wollner. Uma coisa é certa, a marca ficou até mais agradável com esses degradês e eu tb acho que a id.visual completa pode resolver o resto, mas a danada ainda não ficou linda aqui na minha tela.

Jorge

Ótima defesa. Mas se a marca fosse boa, não precisaria de defesa.

Anônimo

http://twitter.com/tipoforme/status/18124887180

Bena Mendes

Bem, eu realmente não gostei da marca, mas isso não é o mais importante. O mais importante que eu acho é ver como as pessoas se envolvem com a copa e agora que vai ser no Brasil... Até a marca gera polêmica. Se você não gostou (como eu, vai ter que se acostumar com ela e torcer JUNTO com o Brasil! Com essa marca ou com outra, pra frente Brasil. Rumo ao Hexa!

Eduardo Rocha

O texto está ótimo, mas continuo achando a marca uma grande porcaria.

Cezar Cavalcanti

Tem certeza que a redução é respeitada? O que acontece entre a proporção de 2014 com o resto do símbolo quando se reduz?

Além do mais, ficou uma semiotica muito aberta, e a tipografia não está esteticamente agradável.

Anônimo

Essa marca é um lixo... mas sempre tem algum idiota pra gostar de porcaria, não fosse assim o que seria da banda Calypso e da Sthéphany Cross-Fox... medo eu tenho de quem ainda defende essas porcarias!

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